12.7.07

Melâncolia de Inverno (Blue Sky Blue)


Sorte de Hoje
"A vida é uma droga, mas passa rápido".
Woody Allen

O Inverno chega e com ele, uma certa melancolia. Tempo de repensar a vida, a arte que faço, perceber as mudanças que a gente vai sofrendo com o decorrer dos anos.

Inadequação. Essa palavra me persegue. Talvez minha arte seja um veículo pra eu expressar minha inadequação nesse mundo estranho que a gente vive. Acabo de ler um romance policial (muito ruim por sinal), mas que me fez pensar algumas coisas. De como a gente nega uma série de coisas, e na essência, no fundo no fundo, tá apenas evitando um comprometimento.

O processo de fazer um disco pra mim (e olha que nunca fiz um meu de verdade), acaba sendo sempre um parto bem doloroso. Na época do Ascendência Mista isso já tinha acontecido. Possibilidades infinitas, a autocrítica sem fim, a total falta de perspectiva (de lançamento decente por exemplo). Aí, terminado o processo, vem uma ressaca ou depressão pós parto, se você preferir, e ela acontece exatamente no momento que você tem que começar a "trabalhar o disco", fazendo shows, divulgando, etc...

Somado a tudo isso o processo de se fazer um disco faz a gente reavaliar uma série de coisas, inclusive repensar qual vai ser o próximo passo.

A gente passa a vida se medindo pela régua do outro, olhando pra fora ao invés de olhar pra dentro. Descobri que a porta do mundo, no meu caso, tá dentro de mim. A maioria das pessoas que eu conheço que faz rap, fica se questionando (alguns fãs inclusive), o porque do rap "alternativo" simplesmente não alcança um público maior.

Posso aqui criar um milhão de teorias, botar a culpa em deus e o mundo, dizer que o rap no Brasil carrega um estigma ruim e que isso acaba prejudicando todo mundo, mas a real é bem mais simples.

A gente não tá comunicando. A gente não tá dizendo o que as pessoas querem ouvir. Não existe identificação, ou se existe é muito pouca. E quando digo o que as pessoas querem ouvir, não tô dizendo que a gente tem que nivelar por baixo.

Se as pessoas passassem a ser um pouco mais honestas e falassem o que realmente querem, alguém ía querer ouvir.

São dois os caminhos a seguir. Um deles é o caminho da ruptura, da confrontação, da provocação, da subversão de valores o outro é o que fala direto à emoção das pessoas.

Não tenho visto nem uma coisa ou outra. Nem confrontação real, nem nada que seja relevante pro público, que faça com que as pessoas se identifiquem. Não sinto que os artistas, tem sido honestos nem consigo mesmos nem com o seu público. O que enxergo é gente fazendo música pra agradar "a cena" ou tentando descobrir fórmulas de agradar o público.

O inverno avança, e a melancolia cresce.
Matéria-prima é o que não falta.

A verdade é que eu só queria conseguir criar canções que emocionassem as pessoas, como eu me emociono ouvindo o novo Wilco, Blue Sky Blue.
Jeff Tweedy fez canções de amor, pop, singelas, de um amor que se foi, mas que ainda acreditamos que pode voltar e entrar pela porta a qualquer momento...
Música atemporal. É de 2007 mas podia ser de 1977.

Ouvindo
Música: On And On And On
Artista: Wilco
Álbum: Blue Sky Blue [2007]

5.7.07

Flores Azuis, Vetores e Inadequação


(ilustração sobre foto de Guiga - guigaganjalize@hotmail.com)

Faz poucos dias que vi o filme "O Homem Duplo" [A Scanner Darkly, 2006, Richard Linklater - Antes do Pôr do Sol, Waking Life], baseado num conto do escritor Philip K. Dick.


“O Homem Duplo” se passa num futuro bem próximo (daqui a sete anos), quando o governo monitora as ações dos cidadãos usando como desculpa a dependência de uma super droga – a “substância D”. Policias disfarçados utilizam um traje (que mostra em frações de segundos, formas humanas que se alternam) que os cobre da cabeça aos pés e que esconde sua identidade.

No meio disso temos o personagem de Keanu Reeves – um policial disfarçado e viciado na substância D que é designado para vigiar sua própria casa, que ele divide com mais dois amigos e sua namorada.

Robert Downey Jr. (Chaplin, Zodiaco) e Woody Harelsson (O Povo Contra Larry Flint, Assassinos por Natureza), fazem os dois amigos "doidões" de Keanu, que se drogam o tempo todo, tem delírios paranóicos, e garantem boa parte dos momentos mais engraçados do filme.

Linklater e seu time de "outsiders" da indústria.

Downey Jr. chegou a ser considerado um dos maiores atores de sua geração, mas por conta dos frequentes problemas com drogas que o levaram a problemas com a justiça, que o levaram a ser internado em mais de uma ocasião para desintoxicação e resultaram num período de condicional de 3 anos.
Vai fazer o papel de Tony Starks na adaptação para o cinema do clássico personagem Marvel, Homem de Ferro previsto para o ano que vem.

Winona Rider forçou um hiato na sua carreira entre 2001 e 2005 após o episódio de shoplifting/cleptomania (Rabino Sobel alguém?).

Woody Harrelson é vegano ético e em paralelo à sua carreira como ator, é ativista. Entre as causa que defende estão questão ambientais, dos direitos do animais e em prol da legalização da marijuana no EUA.

Keanu Reeves de ascendência chinesa e havaiana, pai americano, mãe inglesa, naturalizados canadenses, nasceu no Beirute e tem uma irmã Australiana, mais globalizado impossível. Na trilogia Matrix, fez doações de boa parte dos seus rendimentos à equipe técnica e de efeitos especiais.

Resumindo:
Linklater, um time de outsiders, rotoscopia, paranóia, controle do Estado, e a questão das drogas , temas recorrentes a K. Dick num conto com fortes cores autobiográficas.

Devido ao processo de animação, tanto o prazo, quanto o orçamento do filme foram estourados. O diretor nas entrelinhas utilizou o filme para críticar a "doutrina Bush". Questões muito atuais, como o controle do estado, a supressão de direitos civis, etc...

Apesar de compartilhar da mesma técnica de animação e do mesmo diretor que "Waking Life", acho injusto compará-los. "A Scanner" é um filme muito mais bem acabado que "Waking Life", o que na verdade acaba sendo o seu ponto fraco. Em Waking Life não existe uma uniformidade visual no decorrer do filme, mas essa falta de uniformidade visual, nesse caso específico, servia ao roteiro, enriquecia o filme.

Extras
Os vários designers responsáveis por transformar Keanu e cia em "desenhos" explicam um pouco melhor o processo envolvido na criação do filme.
Entrevistas com os atores do filme, com as filhas do escritor que acompanharam o set de filmagens, imagens raras de K. Dick, entre outras coisas.

Ouvindo: Dr. Octagon (Kool Keith) - Blue Flowers

Mix DuContra na reta final.



Essa mixtape serve como aperitivo do disco "oficial", e como um anúncio de onde a gente tá em 2007. Músicas feitas na hora, novas parcerias, sons solo ou simplesmente material que sobrou ou que a gente não soube encaixar na temática do álbum, tão nesse disco.


Solos minhas, do Deja Vu, Mascote e Ogi, e participações no microfone de: Shawlin, Nel Sentimentum, Nairóbi, Rodrigo Brandão, Zorack, Rump, Geléia, Sarkasmo, Choco, Max B.O., Isabela Fernandes, Jamés Ventura e Rick e nos beats de Dário "Dadá Maravilha" Onesixteam, DJ Caíque, Professor M.Stereo, Ogi e Nave, eu acho que não precisa falar muito mais.

Essa semana terminam as gravações e aí é só o tempo de mixar, fechar a arte da capa e mandar prensar.

Assim que tiver tudo fechado, coloco a lista de faixas e a prévia da capa.

Abraço a todos

Munhoz no Reino Unido


Acaba de sair no último sábado dia 30 a coletânea promocional - Nova Música do Brasil, que faz parte do projeto Troca Brahma, que em 2007 está promovendo o intercâmbio entre artistas brasileiros e do Reino Unido.
Entrei nessa coletânea com um remix da música Até o Fim. Vou receber algumas cópias do disco nos próximos dias, então nesse meio tempo, vou pensar em alguma promoção (isso se alguém quizer o disco é lógico).